sexta-feira, 22 de maio de 2009

Steiner London - Final - "Fly Away From Here"

E assim aguentei a rotina diaria, um dia parecia mais pesado que o outro, e a unica coisa que fazia meus dias valerem a pena era os amigos que encontrava na caminhada. E o cerebro nao parava de borbulhar com pensamentos confusos. Ora pensava, "isso passa, e so fase". Ora pensava "quero sair daqui, eu nao preciso fazer isso". "Vamos la, mais um dia so, voce consegue". Estava me sentindo parte de um grupo estranho de alcoolicos anonimos - "um dia apos o outro".
E toda aquela atmosfera opressiva da Steiner, combinada com um certo grau de indignacao, depressao e saudade dos meus queridos que deixei pra tras em casa tornou-se uma combinacao explosiva.
No dia que seria meu ultimo na Steiner, estava nublado e frio. A cada intervalo para o cafe, eu sentia menos vontade de voltar para a sala de aula. Estava dificil prestar atencao. Um no na garganta, o sorriso, se necessario, era o mais falso de todos.
E tudo terminou muito rapido. Minha treinadora olha para mim no meio de uma explicacao e pergunta se eu estou bem. Nao estava bem, estava quase chorando. E nao costumo ser assim.
Disse que nao estava muito bem, pedi para ir ao banheiro, ela deixou. Mas entao ela pediu licenca para a turma e veio comigo. Perguntou o que estava errado.
Entao veio a tsunami de dentro de mim, aquele monte de emocoes explodiu, transbordou, e nao havia nada mais que o represasse. Ela me ofereceu lencos de papel, esperou ate que eu conseguisse falar. E mostrando um grau de paciencia e compreensao raramente visto na Steiner, eu e minha treinadora concordamos que o melhor a fazer era eu voltar para casa. Ela teceu alguns discretos elogios, dizendo que eu era inteligente e capaz de fazer o trabalho de recepcao, mas nada disso adiantava se eu nao estivesse pronta para partir no navio. E completou a fala, dizendo que se eu quisesse retornar ano que vem e tentar de novo, as portas estariam abertas. Agradeci entre solucos, e depois dos procedimentos legais e papelada, voltei a sala para apanhar meus pertences, e minhas queridas colegas todas me olharam com ar de apreensao. Sem conseguir falar direito ainda, agradeci a companhia de todas elas e desejei sorte, e disse que estava indo embora, que nao estava dando certo. Agradeci a Tracy e sai.
Aquele rio feroz ainda corria em mim, mas a tempestade parecia estar passando a medida em que eu caminhava pela calcada para longe da Steiner. E cada passo era um tantinho mais de alivio.
Peguei o onibus sozinha de volta a YMCA, mas agora com a certeza de que sairia logo dali.
Deram-me 24h para sair da YMCA, ou seja, tinha uma noite para arranjar uma passagem de volta. Eu ja tinha uma passagem da Delta Airlines comprada de volta a Ohio, mas para o mes de janeiro. Liguei para o meu namorado em Ohio e o surpreendi. Disse que estava voltando para os EUA, que nao deu certo na Steiner. Ele fez mil perguntas, eu so conseguia dizer "quero sair daqui". Entao ele adiantou minha passagem de volta para o dia seguinte. Mais alguns telefonemas - casa, taxi para o aeroporto - e estava feito. Fiz minhas malas com grande satisfacao, so queria sair dali.
Na hora da janta, acho que algo em mim queria ficar sozinho sem falar com ninguem. Mas sabe o que dizem, amigos de verdade aparecem quando a gente nem sabe que precisa deles. Eu tinha sentado na menor mesinha do refeitorio, mas nao interessou. Andre, Maria Teresa, Gisele, Tino, todos se amontoaram ao redor da mesa, e conversamos por um bom tempo. E foi bom, foi uma energia positiva, e eu com minha saida tinha medo que eles se desestimulassem, espero que nao.
Um contraste ironico se passava naquele dia - enquanto eu ia para casa, varias pessoas receberam as informacoes sobre os navios para onde iriam em poucos dias, assim como a Maria Teresa.
O treinamento da Steiner nao e pra qualquer um. Tem que ser forte emocionalmente e engolir tudo o que ha de errado naquele lugar. Tem que aceitar ser mandado, tem que aceitar pressoes de todos os tipos, inclusive psicologica, e ter muita forca de vontade, e precisar desse emprego desesperadamente. Talvez me falte alguns desses requisitos, nao sei, mas nao me arrependo.
Fiquei feliz em ver varias pessoas sendo enviadas para seus navios, e a quem ainda resiste na academia, desejo muita forca e sucesso.
E eu, depois de encontrar muitos amigos no restaurante, recolhi-me ao meu "cubiculo" pela ultima vez, terminei de arrumar as minhas coisas e fui deitar, cedo ainda, so querendo que a madrugada chegasse logo, pois as 5h da manha eu estaria de pe fazendo o check-out.
No dia seguinte, decolar de Gatwick foi uma sensacao de alivio incomensuravel. Ver aquele 767 levantando voo e deixando Londres pra tras foi muito bom. E assim como acontecia dentro de mim, deixamos as nuvens para tras, e o sol comecou a brilhar outra vez.
E quando pousei em Cincinatti horas depois, ja me sentia em casa outra vez. Tudo bem que minha casa e no Brasil, mas aqui tambem e uma extensao do meu lar. E fazia calor, o sol brilhava. A comissaria de bordo anunciava, "and for those whose final destination is this city, welcome home.". Welcome home...

2 comentários:

  1. Nossa...... !!!! Ufa!!!!!... não sei o que dizer..... Senti na pele..... Imaginei td... com os seus olhos...... e agora....... fiquei na dúvida.......
    Fê Casagrande

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  2. Nossa!!! ........... Ufa.............
    Não sei o que dizer...... Senti na pele.... vi td com os meus olhos........
    acho q vou desistir.....
    Fe Casagrande

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