sexta-feira, 22 de maio de 2009

Nota aos Futuros Steiners e aos Leitores do OceanBlessing

Meus queridos colegas, amigos, fieis leitores do OceanBlessing

Acredito que muitos de voces estejam supresos com minha desistencia na Steiner. Sei que varios de voces estao de curriculum na mao na fila para uma entrevista, ou fazendo as malas para Londres.

Quando comecei este blog, firmei um compromisso de contar em detalhes cada passo da minha jornada. Que meus escritos servissem como guia para quem fosse tracar a mesma jornada, e acredito que atingi esse objetivo, de acordo com os preciosos comentarios deixados por voces e pelas varias pessoas que ja me conhecem apenas por ter lido meu blog, como aconteceu em Londres.

E mantendo esse compromisso com a verdade nos minimos detalhes, contei a voces minha experiencia em Londres, nao com o objetivo de desestimular ninguem ou afetar a empresa, mas como um aviso, um chamado a realidade. Assim como eu, tenho certeza de que muitos ai fora assistiram a palestra dada na ocasiao da entrevista, onde um quadro de sonhos e dinheiro e pintado para cada um que passar no processo seletivo. Saem de la sonhando com Londres, com o navio, com viagens e muito dinheiro.

E quem for encarar de verdade trabalhar na Steiner deve ir sabendo a realidade do treinamento em Londres, que nao e nenhum paraiso. E apos sobreviver a Londres, ainda incomoda a incerteza de quanto dinheiro voce vai ganhar. Pode ser muito, pode ser pouco, ninguem sabe.
Comparando a Steiner com outras empresas como a Royal Caribbean, ficam muitos pontos de interrogacao para tras. Um funcionario da Royal, por exemplo, trabalha 5, 6 meses, tem salario fixo e bem alto dependendo da posicao (a galera do entretenimento fatura uns 1500 dolares mensais, limpinhos), pode ate ter menos folga que o pessoal da Steiner, mas acredito que tenha muito menos despesas.

Entao, meus queridos, se voces querem ir com a Steiner, vao em frente, mas vao sabendo. Para mim, o verdadeiro estilo da Steiner que me foi revelado em Londres foi um verdadeiro choque. Passamos de "tudo bom, tudo bem, arrume suas malas, viaje o mundo, ganhe pra isso" para "voce faz o que eu mando, do jeito que eu mandar, ou vai embora para casa".

Entao fica aqui minha critica. Nao quero desmotivar ninguem, apenas abrir alguns olhos. O melhor a fazer e ir la e experienciar tudo isso voce mesmo, e tirar suas conclusoes. Pois toda experiencia e valida para um aprendizado, e o que ficou em mim de mais valioso foram os amigos
que fiz no caminho, e que nunca esquecerei. Desej-lhes muita sorte e forca, e que a gente ainda se encontre por esses mares.

Aos meus leitores e futuros tripulantes, que meu blog continue servindo de guia de referencia, tira-duvidas e tudo mais. Estarei sempre disponivel para seus comentarios e questoes. Agradeco a "audiencia".

Bons ventos os guiem!

Steiner London - Final - "Fly Away From Here"

E assim aguentei a rotina diaria, um dia parecia mais pesado que o outro, e a unica coisa que fazia meus dias valerem a pena era os amigos que encontrava na caminhada. E o cerebro nao parava de borbulhar com pensamentos confusos. Ora pensava, "isso passa, e so fase". Ora pensava "quero sair daqui, eu nao preciso fazer isso". "Vamos la, mais um dia so, voce consegue". Estava me sentindo parte de um grupo estranho de alcoolicos anonimos - "um dia apos o outro".
E toda aquela atmosfera opressiva da Steiner, combinada com um certo grau de indignacao, depressao e saudade dos meus queridos que deixei pra tras em casa tornou-se uma combinacao explosiva.
No dia que seria meu ultimo na Steiner, estava nublado e frio. A cada intervalo para o cafe, eu sentia menos vontade de voltar para a sala de aula. Estava dificil prestar atencao. Um no na garganta, o sorriso, se necessario, era o mais falso de todos.
E tudo terminou muito rapido. Minha treinadora olha para mim no meio de uma explicacao e pergunta se eu estou bem. Nao estava bem, estava quase chorando. E nao costumo ser assim.
Disse que nao estava muito bem, pedi para ir ao banheiro, ela deixou. Mas entao ela pediu licenca para a turma e veio comigo. Perguntou o que estava errado.
Entao veio a tsunami de dentro de mim, aquele monte de emocoes explodiu, transbordou, e nao havia nada mais que o represasse. Ela me ofereceu lencos de papel, esperou ate que eu conseguisse falar. E mostrando um grau de paciencia e compreensao raramente visto na Steiner, eu e minha treinadora concordamos que o melhor a fazer era eu voltar para casa. Ela teceu alguns discretos elogios, dizendo que eu era inteligente e capaz de fazer o trabalho de recepcao, mas nada disso adiantava se eu nao estivesse pronta para partir no navio. E completou a fala, dizendo que se eu quisesse retornar ano que vem e tentar de novo, as portas estariam abertas. Agradeci entre solucos, e depois dos procedimentos legais e papelada, voltei a sala para apanhar meus pertences, e minhas queridas colegas todas me olharam com ar de apreensao. Sem conseguir falar direito ainda, agradeci a companhia de todas elas e desejei sorte, e disse que estava indo embora, que nao estava dando certo. Agradeci a Tracy e sai.
Aquele rio feroz ainda corria em mim, mas a tempestade parecia estar passando a medida em que eu caminhava pela calcada para longe da Steiner. E cada passo era um tantinho mais de alivio.
Peguei o onibus sozinha de volta a YMCA, mas agora com a certeza de que sairia logo dali.
Deram-me 24h para sair da YMCA, ou seja, tinha uma noite para arranjar uma passagem de volta. Eu ja tinha uma passagem da Delta Airlines comprada de volta a Ohio, mas para o mes de janeiro. Liguei para o meu namorado em Ohio e o surpreendi. Disse que estava voltando para os EUA, que nao deu certo na Steiner. Ele fez mil perguntas, eu so conseguia dizer "quero sair daqui". Entao ele adiantou minha passagem de volta para o dia seguinte. Mais alguns telefonemas - casa, taxi para o aeroporto - e estava feito. Fiz minhas malas com grande satisfacao, so queria sair dali.
Na hora da janta, acho que algo em mim queria ficar sozinho sem falar com ninguem. Mas sabe o que dizem, amigos de verdade aparecem quando a gente nem sabe que precisa deles. Eu tinha sentado na menor mesinha do refeitorio, mas nao interessou. Andre, Maria Teresa, Gisele, Tino, todos se amontoaram ao redor da mesa, e conversamos por um bom tempo. E foi bom, foi uma energia positiva, e eu com minha saida tinha medo que eles se desestimulassem, espero que nao.
Um contraste ironico se passava naquele dia - enquanto eu ia para casa, varias pessoas receberam as informacoes sobre os navios para onde iriam em poucos dias, assim como a Maria Teresa.
O treinamento da Steiner nao e pra qualquer um. Tem que ser forte emocionalmente e engolir tudo o que ha de errado naquele lugar. Tem que aceitar ser mandado, tem que aceitar pressoes de todos os tipos, inclusive psicologica, e ter muita forca de vontade, e precisar desse emprego desesperadamente. Talvez me falte alguns desses requisitos, nao sei, mas nao me arrependo.
Fiquei feliz em ver varias pessoas sendo enviadas para seus navios, e a quem ainda resiste na academia, desejo muita forca e sucesso.
E eu, depois de encontrar muitos amigos no restaurante, recolhi-me ao meu "cubiculo" pela ultima vez, terminei de arrumar as minhas coisas e fui deitar, cedo ainda, so querendo que a madrugada chegasse logo, pois as 5h da manha eu estaria de pe fazendo o check-out.
No dia seguinte, decolar de Gatwick foi uma sensacao de alivio incomensuravel. Ver aquele 767 levantando voo e deixando Londres pra tras foi muito bom. E assim como acontecia dentro de mim, deixamos as nuvens para tras, e o sol comecou a brilhar outra vez.
E quando pousei em Cincinatti horas depois, ja me sentia em casa outra vez. Tudo bem que minha casa e no Brasil, mas aqui tambem e uma extensao do meu lar. E fazia calor, o sol brilhava. A comissaria de bordo anunciava, "and for those whose final destination is this city, welcome home.". Welcome home...

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Steiner London Parte 3 - "Sim senhor, Senhor!" - Marchando com o Exercito de Branco

Um verso da musica "Somewhere Only We Know" da banda inglesa Keane ficava ecoando em minha cabeca - "Is this the place that I've been dreaming of?" A atmosfera toda daquele lugar me incomodava. La no inicio dessa piracao, sentados na nossa entrevista de selecao em Porto Alegre em 2008, achavamos o maximo ir a Londres para um treinamento da empresa. Uhu! Viajar, ter comida e acomodacao de graca, e se aperfeicoar profissionalmente. Quem vai recusar ne?

Minha critica reside no fato de a verdadeira realidade do treinamento ter sido deixada em segundo plano aos futuros Steiners. Ninguem nunca me falou da pressao sobrehumana que aqueles instrutores depositam sobre cada um. Ninguem nunca me falou da pilha de papel a ser digerida de um dia para o outro. E ainda fosse so trabalho, isso nao me assustava.
Mas de alguma forma, a "pedagogia" da Steiner Academy conseguia desmotivar muita gente, transformando voce em um ser pequenininho que so faz o que eles mandam ou e mandad0 para casa.

Olha eu ja trabalhei sobre pressao, ja tive quantidades enormes de trabalho e jornadas de lavoro e estudo que combinadas duravam 12h, ate mais. A diferenca entre o que eu estava passando no treinamento e a minha experiencia e que, ao contrario do que me parece acontecer na Steiner, eu sempre trabalhei em equipe. Voce me ajuda, eu te ajudo, a gente faz junto, se errar tudo bem, errando e que se aprende. Ja trabalhei em escolas, restaurantes, vi coordenadores pedagogicos saindo do escritorio para ajudar os professores a pendurar baloes, vi gerentes de restaurante carregando caixas e tirando po junto com os garcons, e coisas assim. E nem por isso havia menos respeito, e nem por isso o pessoal era menos qualificado.

Na Steiner, o negocio nao me pareceu ser trabalho em equipe, mas sim no esquema "eu-mando-voces-obedecem-ou-rua". Chegar 3 minutos atrasado na sala pode significar algum tipo de reprimenda ou humiliacao na frente dos colegas. Vi isso acontecer no segundo dia com um grupo de meninas, que adentraram a sala silenciosamente durante a chamada, e levaram uma rosnada da treinadora por estarem fazendo barulho com os cadernos - "You're late and your being loud!"

Para as recepcionistas, nao tenho criticas severas a nossa treinadora. Ela foi legal com a gente em varios momentos, mas seguia a politica quase nazista da Steiner, entao o problema no meu caso nao era a treinadora, mas a empresa. Havia quase uma inspecao diaria dos nossos cabelos e maquiagem - "you have to look your best" era o refrao repetido mil vezes.
Meninas, esquecam as presilhas, tic-tacs, piranhas, redes de cabelo, pregadores e sei la mais o que. Nao pode, nao pode, nao pode. Ou voce prende em rabo de cavalo e disfarca o elastico fazendo um penteado esquisito, ou compra aqueles bagulhos com cabelo artificial, ou enche a cabeca de grampos que nem a vovo usa. Programar uma meia hora de manha so pra fazer o cabelo vai ser parte da sua rotina.
E maquiagem, quilos e quilos. Quanto mais perua-baranga melhor. Nada de tons de pele. Eles acham lindo uma sombra verde-limao com batonzao vermelho-cereja e esperam que voce esteja sempre assim.

No meu terceiro dia, eu ja era uma pessoa diferente de quando cheguei no sabado anterior. Pisava cuidadosamente para nao quebrar ovos, ou por meu pe no lugar errado. O jeito engracado e animado dos brasileiros vai sendo substituido pela rigidez e seriedade britanica. A gente ate tentava fazer uma brincadeira, muitas vezes a brincadeira parecia um deboche ou ofensa, era tomada de forma negativa, e ninguem ria.

O uniforme, a maquiagem, o cabelo, me olhava no espelho e nao via a mim, mas a um produto da Steiner, do jeito deles. Diversas vezes por dia tentava sacudir a poeira, dizer vamos nessa, mais um dia, so mais um dia. Depois a gente acostuma. E so o comeco. Depois acostuma.
Recepcionistas tem que estar sempre sorridentes, mas eu nao conseguia muito alem de um sorriso falso. Nao tinha vontade de sorrir, tudo parecia tao opressivo e sufocante. Tentava ser positiva, achar forcas, mas estranhamente, retornar para a aula apos nossos intervalinhos de 15 min para o cafe tornava-se mais e mais dificil.

Aos poucos, a unica coisa boa na Steiner eram os amigos que fiz. De todos os cantos do mundo, vinham e perguntavam como voce esta. Alguem se importa, alguem quer que voce aguente firme, e continue. Essa era minha forca. (com cedilha, esse computador nao tem cedilha nem acentos, ta!)

E o meu Red Bull diario era reencontrar o pessoal no cafe da manha e na janta, a bagunca da galera brasileira (embora um tanto mais contida agora), foi isso que me manteve la durante aqueles dias.

Porque a rotina era dura. Acordar as 6h da manha, passar uma meia hora fazendo cabelo e maquiagem, passar o uniforme, pegar as coisas e descer para o cafe, encontrar o pessoal mas pouca conversa, o cafe da manha tinha de ser aspirado rapidinho pois o onibus iria passar, e se perdessemos o dito cujo, estavamos fritos. Sair correndo, la fora um frio do caramba, as vezes com vento e chuva, e a gente de uniforme de manga curta e tornozelos de fora, embrulhadas apenas num casacao que depois teriamos que tirar para entrar na sala de aula.

No onibus, todo mundo estudando, tentando digerir aquelas quantidades enormes de informacao. Rapidinho chegavamos, comecei a pegar aversao pela tal de Uxbridge Road.
Uma corrida ate a frente da Steiner, mais frio e vento. Varias vezes tivemos que ficar esperando la fora ate que alguem abrisse a porta. E a porta, uma vez aberta, abria espaco para mais preocupacoes, ansiedade, e para mim, significava tambem entrar mais uma vez naquela atmosfera escura e pesada que pairava por aquele labirinto de paredes brancas e limpeza impecavel.

Um intervalinho pela manha para um lanche rapido, mais tarde, uma hora de almoco, e mais tarde, outro intervalinho. Leve seu lanche, ou compre da cafeteria deles. Eu ate gostava da cafeteria, a menina que atende e simpatica e as coisas ate que sao baratas, mas nao enchem barriga. E se voce nao tem seu proprio lanche, nao tem outra escolha. Em volta da Steiner, so tem mato e estradinhas que voce nao sabe onde vao dar. Em algum lugar a uns 10 min de caminhada tem uma lojinha, um posto de gasolina, sei la, voce nao vai ter tempo de ver, mesmo.

E se voce sobreviveu ao dia, ainda tem mais. Terminadas as aulas, eh hora da limpeza. Sim, senhor. Limpeza. Cada um dos alunos e obrigado a limpar ao menos sua sala. A galera da recepcao limpava a sala onde ficavamos, do chao as janelas. Tirar lixo, fazer lavanderia, varrer, o pacote todo. Sei que outros alunos eram escalados para limpar o resto do predio, ate os chuveiros, e nao tenho certeza mas acho que ate os banheiros. (Isso os recrutadores nao contam na entrevista ne!? E voce ja assinou um papel dizendo que concorda com limpar as instalacoes do SPA...)

Terminada a limpeza, ainda nao pode ir embora. Todos descem para a cafeteria e aguardam que um treinador venha e libere todo mundo. Que nem no colegio, la no ensino medio. Para mim, a cereja no doce. O fim da picada. O cumulo dos cumulos. Uma clara demonstracao de poder e manipulacao sobre cada um de nos. Voce faz o que eu mando, e apenas o que eu mando. Voces vao embora quando eu achar que podem. E se nao for assim, a porta da rua e serventia da casa.

Uma vez autorizada nossa saida, uma imagem um tanto surreal e por vezes, divertida. Os jardins da Steiner eram tomados por um exercito de branco que marchava junto ate a parada de onibus, tomando as estreitas calcadas de Harrow Weald e lotando os onibus vermelhos double-decker.
Na multidao, identificava rostos conhecidos, havia um certo alivio em muitas daquelas faces, mas nunca por completo. Na volta, alguns conversavam, outros estudavam, outros como eu apenas olhavam longe pela janela desejando estar em outro lugar. Perguntando-se se era melhor desisitr, tentando achar forcas para continuar.

E eu nao me acostumava com nada daquilo, na viagem de volta, eu sempre tinha vontade de chorar, de desistir, pegar um aviao e sair daquele lugar. Mas continuava caminhando.
O onibus anuncia Watford High Street, hora de descer. Agora o exercito de branco se espalhava pelas ruas. Nao era nem 18h, todas as lojas estavam fechadas. Ate o Burguer King. Na YMCA, a janta terminava as 19h. Entao o negocio era correr.

Deixava meus colegas para tras e apertava o passo, largava minhas coisas no quarto, trocava de roupa e ia jantar. As vezes eu chegava e ia direto jantar. Um alivio rever o pessoal, conversar sobre o dia, mandar a mer** as regras e ate falar em portugues. Comida ruim. Ou tinha pimenta de derreter o prato, ou nao tinha gosto. Oferecem quatro pratos quentes, voce so pode comer dois. Que nem crianca - ou bala ou pirulito. Mas quando a fome bate, voce come, nao interessa. A sopa ate que era bem boa. A janta e mais tranquila, da tempo de uma conversa com a galera.
Depois eu subia para meu cubiculo, rapidinho, e pegava o laptop. Todos faziam isso.
Na sala perto do restaurante tem internet wireless de graca, e so conectar. Se voce nao tem computador, eles tem umas carrocas velhas la que da pra usar por 20 min por vez. Entao depois da janta era sempre hora de falar com a familia, amigos, colocar fotos no orkut. Todo mundo querendo saber como estava o treinamento, eu nunca tinha muita coisa pra dizer.

E com o passar dos dias, a "hora-internet" era cada vez mais curta. Era preciso fazer "o tema de casa", que nao era pouco. Eu me confinava no meu quartinho com minhas colegas de quarto, todas estudando. Ignorar o cansaco, fazer render as poucas horas livres que voce tem. Tomar banho era um desafio, o chuveiro em condicoes suspeitas era do tamanho de uma caixa de sapato e nao tinha agua quente depois de uma certa hora da noite, nem de manha cedo. Cerca de 23h, iamos dormir, para acordar as 6h da manha no outro dia e fazer tudo de novo.

Havia horas em que aquilo tudo me sufocava, e meu unico alivio era dormir e sonhar que estava em outro lugar.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Steiner London - Parte 2 - Induction Day

Pois chegou o dia, finalmente. Induction Day, o primeiro dia do treinamento. Na manha de segunda feira, junto-me ao batalhao de novatos com seus despertadores tocando as 5h da manha e seus terninhos bem passados. Ai ai ai, nao pode chegar atrasado. Lembra daquela frase dos livros de historia, "The sun never sets on the British Empire" ? Olha que eu descobri de onde que eles tiraram essa. Pois nao e que o Rei Sol vai dormir as 21h30 e levanta as 4h30 da manhano Reino Unido? Um negocio sobrenatural!

Entao vai com a galera! O cafe da manha (e como eu aprenderia depois, a maioria das refeicoes) nao e feito para ser degustado. Apenas ingerido. Alem de a culinaria inglesa ter la sua fama (a comida eh ruim mesmo!), nao ha tempo para cafezinhos na frente da TV. Entao simplesmente engulo meu desjejum matinal e saio deitando os cabelos para a parada de onibus.

A parada fica bem na frente da YMCA, voce pega o onibus que se chama 258 to South Harrow. Sim, daqueles vermelhoes de dois andares. E o bicho fala. Cada vez que algum vivente sobe, voce escuta, "two-five-eight, to South Harrow". Mas nao tem como se perder. Vai aproveitando o passeio e toca a campainha quando voce ouvir "Uxbridge Road". Ali fica a Steiner Academy.
Mas tem sempre uma galera, entao e so seguir o pessoal.

Chegamos na Steiner, nao certos sobre como se comportar. Todo mundo arrumadinho, bastante tenso, curioso, as emocoes se misturavam. O jardim da Steiner em principio tem sua beleza, mas suas formas tao rigidas e controladas tornavam aquele lugar estranhamente incomodo. O mesmo era verdadeiro para a propria mansao onde fica a Steiner. Tudo certinho demais.

O primeiro dia foi facil, comparando com o que estava para vir. E ja cheguei me estressando - tinha que pagar a taxa de 275 pounds, e meu banco fez o favor de resolver complicar minha vida - so tinha 200 pounds na mao. Catei na bolsa, achei mais 45 pounds. Cheguei para o pessoal do administrativo e relatei o problema, perguntei se seria possivel o pagamento da quantia restante ser feito durante a semana. A resposta? Um olhar frio de renguear cuzco, e a sentenca - "Venha ao meu escritorio amanha e me diga quando vais ter o dinheiro, e nos vamos ver se voce vai ficar no treinamento." Essas foram as boas-vindas no bom estilo Steiner.

O que aconteceu? Me mexi, fui pedindo que nem mendigo pros colegas e arrumei os 30 pounds restantes. Ufa! Tudo certo.

Levem uma boa pasta. Papel e poligrafo eh o que nao faltara. Ja no primeiro dia saimos soterrados. O primeiro dia, alem da entrega dos documentos, papelada, exames medicos, grana, uniformes, etc etc, e tambem o dia em que a chefe do treinamento, Penny, faz uma palestrinha dando uma geral sobre a Steiner. Logo nos primeiros dias tem prova.

E ja estava me irritando - a tatica na Steiner era ameacar de mandar pra casa caso nao fizessemos as coisas do jeito deles. Voce vai ouvir isso muitas vezes. Nem sempre e serio, mas todo mundo acredita. E acontece - vi gente ser mandada embora mesmo.

O primeiro dia foi tranquilo, mas aquela sensacao de desconforto continuava em mim. Uma energia pesada pairava naquele lugar, nao sei. Os veteranos do treinamento, ninguem sorria. Perguntados sobre como estava indo o treinamento, todos respondiam um fraquinho "It's alright." Mas ja que estamos aqui, vamos nessa.

domingo, 17 de maio de 2009

London (there and back) - Sobre o treinamento na Steiner parte 1

E entao parecia um sonho meio pirado. Sete horas de voo me separaram de Ohio e de muitas coisas de meu coracao que deixei para tras, quase a contra-gosto. E essas mesmas horas puseram meus pes em Londres, na famosa Londres, aeroporto de Gatwick. Eu e minhas malas sem rodinha. Sabe aquela historia de que e boa ideia levar uma mala dobravel? Pode ate ser, mas escolham uma com rodinha. Ou uma hernia na coluna. (risos)
Fazia sol em Londres e todo mundo dirigindo do lado errado da estrada (que pra eles e certo!). O lado que vem, vai. O lado que vai, vem. E nem se fala no motorista do lado virado do carro. Cheguei, e a hora Steiner se aproximava.
Podia ter pego trem, onibus, alternativas economicas. Mas eu me conheco, depois de horas num aviao, nao estava muito afim de me perder no metro de Londres com minhas malas com alca e sem rodinha. Vou de ta-xi, ce sabeee....
Entao chegamos a Watford. La, fica o nosso alojamento, a YMCA. Os arredores me lembravam o centro de Porto Alegre em suas cores cinzas e em sua dinamica. O predio, porem, e bem localizado perto das linhas de onibus e cercado por um shopping e muito comercio. Territorio dos alunos da Steiner, claro. La, ha andares inteiros reservados para "os Steiners".
Entao cheguei no meu quarto. Fui sorteada com o menor quarto da YMCA aparentemente. Do tamanho de um corredor, acumulava dois beliches, quatro pessoas, nenhum roupeiro. Alem de uma pia e uns espelhos e muita bagagem espalhada pelos cantos, nada mais havia la dentro de interessante. Limpinho, ate decente, mas meio claustrofobico. Banheiro coletivo, chuveiro tambem, condicoes meio suspeitas. Arrumei minhas coisas do jeito que deu, ainda me sentindo um pouco deprimida, pois odeio despedidas, e ha algumas que doem mais que outras. Mas estava feito, era encarar e seguir em frente no desafio.
Meu treinamento so comecaria na segunda, e isso era um sabado. Cheguei antes pra me acostumar com o fuso horario de 5h na frente do nosso, e conhecer o lugar e a galera. O predio vazio, estavam todos na aula, na Steiner. Dei-me conta de como e dificil o inicio, mas tambem quao importante sao os amigos.
Mais tarde, na hora da janta, fui aos poucos reencontrando minha galera. Andre, Maria Teresa, estavam todos la, felizes em me rever, e foi muito bom ve-los, mesmo. Conheci outros brasileiros que ja me conheciam so pelo blog. Juntou uma turma no restaurante, foi o que precisava para eu me animar. Ate rolou programacao para o dia seguinte - glorioso colega, Tino, ofereceu-se de guia para conhecermos o centro de Londres e seus marcos historicos.
E talvez aquele domingo tenha sido o melhor dia que tive la. Caminhamos por Picadilly Circus, andamos no famoso metro de Londres, perambulamos pelos arredores do Palacio de Buckinhgam com direito a assistir a troca da guarda.
Nao imaginava o tamanho da torre de babel que se acumula em volta do palacio toda vez que ocorre a troca da guarda. Milhares de pessoas de todos os cantos do mundo se amontoam para ver os guardas da rainha e suas roupas engracadas marchando esquisito. E la estava eu!
De inicio e muito legal, voce enxerga a tropa chegando e tocando musica, marchando, entrando no palacio. Depois fica chato (risos!), eles so ficam la parados um tempao, tocam umas musiquinhas e...o que acontece depois eu nao quis saber pois tanto eu quanto o Tino e minha colega da Africa do Sul, Monica, ja estavamos cansados e entediados e afim de deitar o cabelo.
Proxima parada, Big Ben. Eu achava que o benhe era maior do que me pareceu, mais ainda assim foi muito, muito legal ver esse cartao postal ao vivo. A Abadia de Westminister, a Ponte sobre o Rio Tamisa, e do outro lado, a moderna London Eye. Bem coisa de turista...
Caminhando por baixo da London Eye, eu parecia que estava babando. O Tino me cutuca o ombro e diz, "Lauren, tira foto...tu ta hipnotizada ai!" =))
Um almoco rapido numa loja do Subway e seguimos para encontrar uma amiga do Tino. Juntos, todos fomos ao lugar mais pirado de Londres. Uma mistura ecletica de hippies e punks cada um com sua lojinha de artigos variados, tudo na paz. Desde perucas, espartilhos, piercings ate comida brasileira. Compra-se de tudo la. Foi um contraste interessante visitar a Londres formal e pomposa, e a Londres hippie-punk e maluca. Curioso? Entao va ate esse lugar chamado Camden Town. E divirta-se!
A galera exasuta de tanto caminhar, era hora de voltar, com direito aqueles buses vermelhos de dois andares.
Entao mais uma licao do "English Way of Life" ~ dia de semana, principalmente, tudo fecha as 5h da tarde, por ai. Ate o Burguer King. E a janta na YMCA e ate as 19h. Se voce perder um ou outro horario, fica de barriga vazia. Eu e a Monica chegamos na YMCA as 19h30, com fome. Fomos parar num McDonald`s que estava quase fechando. Nunca um BigMac sentou tao bem na barriga.
Entao ta, fechava-se assim um grande domingo em Londres. No dia seguinte, a iniciacao na Steiner. Tchan-tchan-tchan tchan....esperar para ver.